
A escritora Natália Timerman participa, nesta sexta-feira (13/6), de evento que celebra o aniversário de um ano da Livraria Platô (CLS 405). A festa, que tem início às 19h, também terá participação de Paulliny Tort e dos DJs Flavio Trummer, da Banda Eddie, e Nívio Caixeta.
Natália, que já foi finalista do Prêmio Jabuti, é autora de cinco livros e, este mês, relança Desterros — Histórias de um hospital-prisão, o primeiro livro, publicado em 2017. O texto, escrito em primeira pessoa, trata de casos acompanhados pela autora, que é psiquiatra, durante os oito anos em que trabalhou no Centro Hospitalar do Sistema Penitenciário (CHSP). “É um relançamento, mas são questões que continuam aí, como a superlotação do sistema carcerário. É uma discussão que ainda é muito relevante e são histórias que valem a pena serem contadas e que cheguem a mais gente”, acredita.
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O livro começa e termina com a história de Donamingo, uma angolana presa no aeroporto por tráfico de drogas e que dizia não saber o que havia na mala trazida de Angola. Vítima da precariedade e da pobreza, a mulher viu na oferta de transportar sapatos uma oportunidade de ganhar algum direito que melhoraria a vida da família. Não sabia serem as dezenas de sapatos que trazia os recipientes para as drogas. Donamingo descobriu, na prisão, que estava grávida do companheiro angolano. O bebê nasceu prematuro, ou por muita dificuldade mas sobreviveu. A mãe cumpriu a pena e conseguiu que o filho se recuperasse. Acabou não voltando para Angola.
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A história de Donamingo teve um final feliz, mas raramente é o caso na prisão. O livro mergulha no mundo prisional para dar contexto a um universo que, segundo Natália, a sociedade costuma evitar. “Esses livros direcionam o olhar da sociedade para dentro dessas prisões, que são lugares para onde a gente evita olhar. A partir de como a concebia, a vida dentro da prisão era algo totalmente estereotipado e contar essas histórias é desfazer esses estereótipos, humanizar essas pessoas”, acredita. “É a voz de uma psiquiatra que trabalhou lá, então tem a prática psiquiátrica, o desencontro de premissas entre o que é um hospital e uma prisão, algo vai além do teórico, tem implicações práticas. As histórias são singulares, mas acho que se repetem.”
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A autora trabalhou no CHSP durante oito anos e o livro foi a concretização de um caminho que ela ensaiava há muitos anos. “Foi uma decisão muito difícil sair de lá e foi um trabalho que gostava muito, mudei muito como pessoa, me inaugurei como escritora. Eu continuei sonhando com o hospital por muito tempo”, conta. Uma experiência transformadora e desafiadora, tanto para bem quanto para o mal, explica Natália. “O ambiente prisional embrutece as pessoas que estão lá, tanto as que trabalham quanto os presos”, lamenta. O livro foi reeditado e ganhou uma apresentação da Juliana Borges, além de algumas mudanças textuais relacionadas com a própria evolução da psiquiatra como escritora.